Mensagens

Um café escaldante

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No coração da cidade, entre a correria dos residentes e os olhares dos turistas, havia um pequeno café onde encontrei a Sofia pela primeira vez. Ela era um farol no meio do caos, a sua gargalhada uma melodia que se fazia ouvir acima de todo o ruído de conversas e loiça. Os seus olhos, num cativante tom de avelã, brilhavam com aquela confiança que seduz e ao mesmo tempo intimida. Era uma mulher independente, dona de si, e calorosa como o sol do meio-dia. Eu, por outro lado, era um tipo assombrado por fantasmas do passado. Tinha provado o amor, e o pior que ele pode trazer, a perda da rejeição. Talvez por saber que pelo menos essa relação estava sob o meu controlo, pensava eu, abusei do álcool e tudo o que me entorpecesse os sentidos, mas principalmente os sentimentos. Eu era um resquício de homem, com medo de me abrir, de me tornar vulnerável, de ir ainda mais ao fundo... mas, coincidência ou destino, lá estava eu frequentemente naquele café, atraído como uma traça a uma chama.  Não sei

Prazeres Alheios - Ai que massagem!

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Sim, eu já conhecia o conceito mas sei lá, nunca pensei muito no assunto. Talvez por isso nunca me tenha questionado se já havia essa prática cá em Portugal ou não. A verdade é que há e ainda bem! Em conversa com um amigo, ele disse-me que foi fazer uma massagem tântrica. Aliás, não era a sua primeira vez. Achei a ideia super interessante e pondo o meu lado curioso em alerta máximo comecei a fazer todas as perguntas de que me lembrei. A imaginar todo o cenário que me ia sendo descrito, pensei para mim “Porque não?”. Fiz uma pequena pesquisa e encontrei bastantes centros focados apenas neste tipo de massagens. Mais umas quantas perguntas foram surgindo e felizmente o meu amigo esteve sempre disponível para me tirar todas as dúvidas. Decidi então marcar uma massagem para mim. Precisava de escolher o centro, o tipo de massagem e a massagista (descobri que é raro haver massagistas homens nesta área, é possível mas raro). Depois da marcação feita restava-me esperar e que espera… Chegado o d

Prazeres Alheios - A Submissa

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- Estás com medo?  - Não. Tu és o meu Dominador. - respondeu ela. Ajoelhada, vendada ali no meio da sala, ela começava a sentir-se angustiada, estava naquela posição há pelo menos 1h! Os seus braços estavam presos atrás do seu corpo nu e ela aguardava ansiosa por uma nova ordem. Escutou os passos dele, e sentiu-o a andar ao seu redor. - Mas talvez devesses... – ameaçou ele num tom sério e pesado. “Há quanto tempo estou aqui?” pensou ela. Naquela sala onde tinha sido guiada, os castigos não paravam de se seguir uns aos outros,  fazendo-a perder totalmente a noção do tempo. Encontrava-se totalmente submissa. De repente, um pingo de cera quente tocou-lhe nas costas. Em seguida, outra, fazendo-a contorcer-se. Ele circulava com uma vela nas mãos enquanto derramava a cera quente sobre o seu corpo despido e vulnerável.  Os pingos de cera pararam. Ela ouviu os passos dele a afasterem-se novamente. “Onde será que ele foi? O que será que me vai fazer?”. Muitas coisas passavam pela sua cabeça cad

Prazeres Alheios - Tratamento Especial

Eram 3h e pouco da manhã quando acordei, mal disposto. Uma sensação estranha no estômago e algumas tonturas. Não percebi o que era até que a sensação evolui para dor... Uma dor intensa, que inevitavelmente me levou até ao hospital. Não é propriamente o lugar onde mais gosto de estar, mas estava a viver em Lisboa há alguns meses e não conhecia tanta gente quanto isso. Àquela hora não tinha a quem ligar para pedir algum tipo de ajuda e a minha família está demasiado longe para isso. Enfim... uma proposta de trabalho que mudou radicalmente a minha vida! Mas às vezes é assim mesmo que tem de ser. E, neste caso, a oportunidade de trabalhar numa grande empresa como arquitecto, foi aquela a que chamamos "uma num milhão". Bem, voltando atrás... entre aquele vai-vém de dor aguda, cheguei ao hospital. Eu só queria que fizessem algo para a dor passar e poder voltar para casa. Só nunca pensei que não fosse para a minha. Quando ouvi o meu nome, entrei na sala da triagem, e assim que o f

Uma sessão memorável

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Fechado há já uns dias em casa, parece que esgotei quase tudo o que me conseguia distrair de forma produtiva. É verdade que estou tecnicamente a trabalhar remotamente, ou em teletrabalho, como gostam de chamar. Mas parece que, sem interrupções a cada 10 minutos com perguntas não tão pertinentes, acabo por ser mais produtivo (que surpresa...). Isto, e combinado com menos 1 hora para cada lado no carro, dá-me mais tempo. Tempo para arrumar, tempo para ver aquela série que tinha pendurada, ou para ler aqueles livros que estavam a meio, mas também tempo para ligar a quem já não ouvia falar há muito, e sobretudo tempo para pensar. Pensar em tudo, desde as coisas pequenas e parvas até às grandes decisões da minha vida e onde me trouxeram. Chego sempre à mesma conclusão: não me arrependo de nada do que fiz, mas confesso que me arrependo de certas coisas que ficaram por fazer... Mas esta reflexão não é de agora, e já há uns meses que estava conscientemente a tomar decisões que evitassem estes

Umas férias coloridas

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- "Olha para a estrada! Estás a dormir, miúdo?" - "Desculpa! Estava distraído" - respondi atrapalhado, enquanto regressava ao meio da faixa. Estava mesmo distraído. Não me saia da cabeça o facto de, apenas 4 meses depois do meu divórcio, estar a caminho de umas férias com o meu grupo de amigos, algo que não fazia há uns 7 ou 8 anos. Não por não ter havido oportunidades, mas nunca mais se tinha proporcionado, ou por termos planos em casal, ou não conseguir tirar férias na altura, sei lá... Mas estou a tentar enganar quem? Estava mesmo distraído era pelas pernas dela, pés descalços no tablier e saia curta, ainda mais recolhida pela sua posição. Era a minha melhor amiga há tanto tempo que nem sei contar ao certo os anos. Tivemos algumas sessões de amassos no secundário, mas nada de mais, e entretanto conheci a minha ex-mulher no primeiro ano de faculdade, e ela, bem... Ela continuou a ser aquele espírito indomável e independente que sempre admirei. Através dela

Não é normal...

Não podemos continuar a virar a cara enquanto milhares de vozes nos tentam abrir os olhos. Ignorância não nos desculpa e chegou a hora de dizer "basta"! Trata-se de algo muito mais fundamental que o feminismo como movimento, algo tão básico como saber viver em sociedade. Como é possível aceitarmos como normal que uma mulher tenha medo de andar sozinha na rua, ou de transportes públicos? Como podemos nós, como um todo, afirmar que uma mulher que nunca foi assediada no trabalho ou em público, das formas mais nojentas que se podem imaginar, é "uma sortuda"? E isto são apenas os exemplos mais leves, no meio de tanto assédio, violência e violação! O primeiro passo, dado pelo @diogofaroidiota e entretanto tornando no @movimentonaoenormal, terá tanta mais importância quanto mais espalharmos a mensagem. A avalanche de testemunhos foi chocante e tem de nos fazer reagir. Chega! Chega de varrer para debaixo do tapete comportamentos que não têm lugar neste mundo. Todos, sem ex